Cadê a oposição?

O artigo de Nelson Motta hoje na Folha de São Paulo é uma pérola sobre a política no Brasil:

Entrevistada na TV em um baile de Carnaval carioca, Regina Casé se espantou: “Pô, aqui todo mundo é atriz-modelo-manequim. E as piranhas, onde estão as piranhas?”.
O baile político está bem parecido. Todo mundo quer dançar com o governo, de Maluf e Collor à extrema esquerda do PT, revertendo a clássica piada anarquista dos anos 60 para “hay gobierno? Soy a favor!”.
Quem quer ser oposição em Minas, contra Aécio Neves e Fernando Pimentel? No Ceará, a oposição ao governador Cid Gomes se reduz -como diria Nelson Rodrigues, que abominava unanimidades- a “cerca de dois” deputados. Isso é bom para a democracia? Ou, além da jabuticaba, o Brasil quer surpreender o mundo com a novidade da democracia sem oposição?
Ou talvez seja hora de rediscutir o papel da oposição no Estado democrático moderno, como no Chile e na Espanha. Em países civilizados, a oposição é rigorosa, combativa, propositiva e indispensável -e exige mais do governo. Mas, aqui, ainda é movida a fisiologismo, ressentimento e desmoralização dos adversários.
Há muitos prefeitos, de todos os partidos, que são íntegros e competentes, mas são minoria entre os bandidos, os fisiológicos e os mercenários em causa própria. Para eles, ser oposição no Brasil é um semi-suicídio administrativo, um atentado contra os interesses da população, é aderir ou sucumbir.
Serra e Aécio devem suar frio imaginando o tamanho da encrenca que os espera em um eventual governo no pós-Lula. Devem ter pesadelos com os movimentos sociais e as centrais sindicais nas ruas, com as greves, com a oposição parlamentar dinamitando projetos e reputações, como um velho filme de terror, turbinado pelo apego às delícias do poder dos que ainda não as haviam desfrutado.