Os blogs e a imprensa tradicional. Cony X Nassif

A Internet talvez seja a coisa mais democrática que já conheci. Democrática em duas direções: todos podem acessar as informações publicadas e todos podem publicar informações e opiniões.

E democracia, como já foi dito, é um sistema cheio de imperfeições.

Quem assistiu o filme “Jogos do Poder”, com Tom Hanks e Julia Roberts, enxergou a relação incestuosa entre vendedores de armas, congressistas, prostitutas, lobistas e arapongas.

Quem já esteve em qualquer nível de governo enxerga logo o casamento entre os interesses econômicos e os eleitorais, onde o dinheiro é usado para gerar votos e os votos são usados para gerar mais dinheiro, em um ciclo que as instituições ainda não aprenderam como evitar.

Temos acompanhado o trabalho do Nassif, apontando o “desvirtuamento” do jornalismo de alguns órgãos como a Veja, onde a imprensa tradicional se coloca a serviço de lobistas, arapongas, grampeadores e outros interesses estranhos.

A utilização crescentes dos blogs produz também bons e maus resultados. Cada blogueiro é hoje dono de seu próprio órgão de imprensa, e deve fazer suas opções: vender-se, vender seu espaço, publicar opiniões isentas, criticar com ou sem seriedade e assim por diante.

Isto é democrático. A luta do blog do Nassif contra a Revista Veja, exemplifica bem o poder que a Internet vem acumulando ao ponto de poder “disputar” contra a maior revista do país.

Sem concordar com o conteúdo, sou obrigado a dizer que a opinião do Carlos Heitor Cony sobre os blogs também deve ser respeitada, poi sou democrático. Apesar de achar que ele não foi muito proporcional em sua crítica. Tratar todos os blogueiros como ele tratou seria o mesmo que tratar todos os jornalistas de forma desrespeitosa.

Ou talvez alguns jornalistas entendam que o direito a escrever besteiras, dar opiniões, publicar verdades ou inverdades continua sendo monopólio deles.

Graças a Internet, não é mais!

“Desocupados, embriões de gênios que desejariam ser comentaristas de política, de esportes, de economia e de cultura, ditando regras disso ou daquilo, encontraram afinal a tribuna, o miniespaço que buscavam e não conseguiam.
Entram na internet com tempo e garra suficientes para tentar criar um mundo à sua imagem e semelhança, mundo que felizmente não existe, a não ser na cabeça desses novos Petrônios informatizados.”

Carlos Heitor Cony,
Folha de São Paulo, 16/03/2008